Por Julio Gavinho*
Reciclando algumas linhas daqui e dali, achei uns pensamentos de uns anos atrás bem atuais. O Brasil recebeu em 2014, 656.000 turistas americanos. Eles vieram ocupando cerca de 40 poltronas por dia nos vôos entre a América e o Brasil, espremidos entre 208 brasileiros em cada 767-300, 777 ou A330. São cinco brasileiros para cada americano em rotas majoritariamente “Floridas” (91 vôos por semana), mas que também incluem os hubs de Atlanta (21 semanais), Dallas (15 vôos por semana) e Houston (14 weekly flights). Este número, cerca de 1.800 americanos movimentando os aeroportos brasileiros por dia, representa 0,5% dos norte americanos que viajaram para fora do seu país segundo a revista Época. Considere que os americanos são os number two na emissão internacional de turistas atrás apenas da Alemanha e aí, se prepare para formar opinião.
Mais ou menos na mesma época (2016) a Índia recebeu pouco mais de 1.200.000 turistas americanos, com seus tênis coloridos, indefectíveis bonés e garrafas de água mineral. A água que, aliás, virou aliada e companheira de todos nós na Índia rivalizando com os curries e os masalas.
Vamos olhar mais de perto e observar que a Índia também exige e cobra por VISA de turista dos Americanos. O processo hindu leva uns dias e custa. A Índia fica longe da América, fala um inglês típico e a alimentação oferece desafios sérios aos paladares menos acostumados ao “diferente”.
Por que fazem todo este sacrifício então, os 1% de viajantes internacionais norte-americanos? Porque a Índia oferece uma experiência que não pode ser vivida em nenhum outro lugar, só na Índia. E isto têm um preço, que pago para os hindus, representou 23.000.000 de turistas em 2014, contando quase 7% do PIB do país e empregando 37.000.000 de pessoas, quase todas das castas mais baixas.
Por que então falar da Índia? Porque muitos acreditam que as dificuldades do Brasil no cenário turístico mundial se devem ao fato de estarmos longe, não falarmos inglês, o VISA ser exigido e cobrado de vários turistas estrangeiros e a nossa indigesta feijoada não ser amigável aos gringos em geral.
Vamos falar de outra coisa então. Segundo o ex-governador da Florida, Rick Scot falando para hoteleiros, operadores de receptivo, restaurantes e transportadores turísticos, em números de 2014, 97.000.000 milhões de turistas visitaram Orlando, sendo 1.500.000 de brasileiros. Vamos somar ao contrário os Britânicos, Japoneses, Canadenses, os Mexicanos e os Inca-Venusianos e chegaremos ao percentual de cerca de 85% de turistas americanos na Flórida.
Por que tantos americanos assim? Primeiro e óbvio motivo é o ineditismo. Some aí praias caribenhas, comida do sul, paraíso de compras com descontos e a Disney. Onde é que isso existe em escala mundial, daquela forma? Para completar, não precisam de passaporte, porque falam a sua língua e porque não há barreira gastronômica.
Isto talvez explique os irrisórios investimentos em publicidade da Florida em qualquer lugar que não seja a América. O cinema, séries de TV e os turistas que freqüentam toda a região anualmente fazem a propaganda que eles precisam. Pense agora que o cinema fez a nossa cabeça quanto ao nosso desejo de visitar a Índia, Paris, a Florida e Nova York. Agora pense no Brasil e constate que com o lugar mais belo do mundo nas mãos, apenas conseguimos vender nossas deficiências e dificuldades mais sérias. Não há nenhum belo VT comercial na CNN que consiga vencer o Zé Pequeno ou nosso Nacional Kid de preto, o Capitão Nascimento.
A política de turismo que precisa ser implantada inclui, é claro, um film comission atuante, publicidade e feiras internacionais, isenção de tarifas para charters, etc. Carecemos de uma ação coordenada que dê segurança e tranqüilidade para quem quer curtir um samba, dançar um forró, ou qualquer um dos atrativos de nosso país. Este não é um caso de varejo (se uma cidade ou outra é mais ou menos segura), mas sim de atacado. Precisamos que nossa imagem seja reconstruída com urgência sob pena de dependermos da balança Brasil/Argentina ou dos nossos próprios bolsos – que, aliás, já estão pagando nossa conta turística faz tempo.
Uma vez, em uma conversa com um amigo de Chicago, ele me disse: “americanos gostam de lugares com sol o tempo todo, com comida exótica e miscigenada, música hipnótica e sexy, alguma história, paisagens fulgurantes tropicais e diversidade étnica.” E eu, claro, respondi: “My friend, o Brasil é o seu lugar!” e ele me respondeu: “Não! Eu estava falando da Jamaica!” Precisamos de uma política contundente que ajude a mudar isso.
*Julio Gavinho é executivo da área de hotelaria com 30 anos de experiência, fundador da doispontozero Hotéis, criador da marca ZiiHotel, sócio e Diretor da MTD Hospitality
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sábado, 16 de fevereiro de 2019
domingo, 7 de janeiro de 2018
Feliz ano velho
Por Julio Gavinho*
"O ano de 1982 foi memorável para mim. Dois fatos importantes apertam-me o coração pela simpatia e dor que ambos me causaram naqueles dias e que ainda me causam hoje, só de lembrar.
O Brasil perdeu a copa que foi ganhar na Espanha. Pintamos as nossas ruas, aprendemos a canção brega do Junior (voa canarinho, voa...), colorimos o Naranjito e colamos os olhos nos extraordinários momentos do fabuloso ataque da seleção. Nem Waldir Peres nos assustava. Aí vieram o Cerezo e o Rossi na área, e no nosso sonho entrou água. Doeu paca. Foi uma repetição da copa de 78 aonde éramos “bonitos por natureza”, “batíamos um bolão” e, pimba. Perdemos, lindos com um 6x0 da Argentina no Peru.
No mesmo ano eu li duas vezes seguidas o romance “Feliz Ano Velho”, do escritor Marcelo Rubens Paiva. Ele narra no livro o seu acidente, que o deixou tetraplégico depois de um mergulho chapado com amigos chapados em um lago com 50cm de profundidade e as consequências disto pela sua vida. Marcelo é filho do engenheiro Rubens Paiva, torturado, assassinado e desaparecido pelo estado brasileiro a mais de 40 anos. Sua família viu a história se repetir ano após ano, como em um dia da marmota de tristeza e desesperança. Feliz ano velho.
Vivemos um momento de crise histórica na hotelaria brasileira aonde, certamente, levaremos muitos anos para retornar aos patamares de diárias e ocupação de 2008. 2008 é o nosso 1982. É o nosso “agora vai!”. É o nosso mergulho na dura pedra da realidade.
Nas cidades que vivem de turismo, como Foz do Iguaçu, Maceió ou Rio de Janeiro o buraco ficou ainda mais embaixo porque a queda do turismo afeta hoteleiros, mas também bares e restaurantes, lojas, micro-empresários e toda uma cadeia de fornecedores que depende do seu voucher.
Novamente não há previsão de grandes campanhas publicitárias internacionais, grandes esforços coordenados em segurança e infraestrutura, entre outros movimentos que fariam a diferença. Feliz ano velho.
O governo federal anunciou, faz uns dias, uns cobres (R$450.000.000) através do FUNGETUR para quem chegar primeiro e conseguir pôr a mão nesse capilé. Novamente as estruturas de garantias exigidas, o tempo de análise de crédito e o périplo para liberação são piores do que as dos bancos privados. Como as taxas (spred + taxas) são muito maiores no privado do que no público, o empresário do turismo brasileiro não pega nem um nem outro, e depois sai por aí dizendo que não há crédito. Verdade, a história se repetindo. Feliz ano velho.
Eu espero um contradita em 2018. Eu espero um agente público que me diga “não é bem assim! Este ano vamos gastar milhões em uma campanha! Vamos aparelhar a polícia! Vamos facilitar o acesso ao crédito subsidiado como tem os outros setores da economia”. Vai... lá vou eu sonhando de novo com um “Joesley” de dinheiro do BNDES para nós, que trabalhamos duro.
Enquanto eu não acordo deste sonho ou não sou desautorizado por ministérios, secretarias e autarquias do setor de turismo, vou desejando a você um 2018 diferente. Por favor, diferente.
Com as minhas expectativas bem baixas só me resta desejar a você um bom ano.
Feliz ano velho."
*Julio Gavinho é executivo da área de hotelaria com 30 anos de experiência, fundador da doispontozero Hotéis, criador da marca ZiiHotel, sócio e Diretor da MTD Hospitality
"O ano de 1982 foi memorável para mim. Dois fatos importantes apertam-me o coração pela simpatia e dor que ambos me causaram naqueles dias e que ainda me causam hoje, só de lembrar.
O Brasil perdeu a copa que foi ganhar na Espanha. Pintamos as nossas ruas, aprendemos a canção brega do Junior (voa canarinho, voa...), colorimos o Naranjito e colamos os olhos nos extraordinários momentos do fabuloso ataque da seleção. Nem Waldir Peres nos assustava. Aí vieram o Cerezo e o Rossi na área, e no nosso sonho entrou água. Doeu paca. Foi uma repetição da copa de 78 aonde éramos “bonitos por natureza”, “batíamos um bolão” e, pimba. Perdemos, lindos com um 6x0 da Argentina no Peru.
No mesmo ano eu li duas vezes seguidas o romance “Feliz Ano Velho”, do escritor Marcelo Rubens Paiva. Ele narra no livro o seu acidente, que o deixou tetraplégico depois de um mergulho chapado com amigos chapados em um lago com 50cm de profundidade e as consequências disto pela sua vida. Marcelo é filho do engenheiro Rubens Paiva, torturado, assassinado e desaparecido pelo estado brasileiro a mais de 40 anos. Sua família viu a história se repetir ano após ano, como em um dia da marmota de tristeza e desesperança. Feliz ano velho.
Vivemos um momento de crise histórica na hotelaria brasileira aonde, certamente, levaremos muitos anos para retornar aos patamares de diárias e ocupação de 2008. 2008 é o nosso 1982. É o nosso “agora vai!”. É o nosso mergulho na dura pedra da realidade.
Nas cidades que vivem de turismo, como Foz do Iguaçu, Maceió ou Rio de Janeiro o buraco ficou ainda mais embaixo porque a queda do turismo afeta hoteleiros, mas também bares e restaurantes, lojas, micro-empresários e toda uma cadeia de fornecedores que depende do seu voucher.
Novamente não há previsão de grandes campanhas publicitárias internacionais, grandes esforços coordenados em segurança e infraestrutura, entre outros movimentos que fariam a diferença. Feliz ano velho.
O governo federal anunciou, faz uns dias, uns cobres (R$450.000.000) através do FUNGETUR para quem chegar primeiro e conseguir pôr a mão nesse capilé. Novamente as estruturas de garantias exigidas, o tempo de análise de crédito e o périplo para liberação são piores do que as dos bancos privados. Como as taxas (spred + taxas) são muito maiores no privado do que no público, o empresário do turismo brasileiro não pega nem um nem outro, e depois sai por aí dizendo que não há crédito. Verdade, a história se repetindo. Feliz ano velho.
Eu espero um contradita em 2018. Eu espero um agente público que me diga “não é bem assim! Este ano vamos gastar milhões em uma campanha! Vamos aparelhar a polícia! Vamos facilitar o acesso ao crédito subsidiado como tem os outros setores da economia”. Vai... lá vou eu sonhando de novo com um “Joesley” de dinheiro do BNDES para nós, que trabalhamos duro.
Enquanto eu não acordo deste sonho ou não sou desautorizado por ministérios, secretarias e autarquias do setor de turismo, vou desejando a você um 2018 diferente. Por favor, diferente.
Com as minhas expectativas bem baixas só me resta desejar a você um bom ano.
Feliz ano velho."
*Julio Gavinho é executivo da área de hotelaria com 30 anos de experiência, fundador da doispontozero Hotéis, criador da marca ZiiHotel, sócio e Diretor da MTD Hospitality
quinta-feira, 21 de dezembro de 2017
O Hotel Big Mac
Por Julio Gavinho*
"O Big Mac foi criado por um franqueado, e não pelo McDonald’s. O criador em questão, Mr. Deligatti atendeu ao desejo do público de uma refeição mais parruda e com isso, criou um dos índices econômicos mais confiáveis do mundo. O “The Economist” só deu nome e comparou os 100 países, batizando o Big Mac index.
Mas afinal, qual o segredo do sucesso de uma marca que atende famintos em Nova Iorque, Paris, Londres, Moscou e Beijing? A consistência. Veja bem: o Big Mac tem o mesmo gosto, mesmo tamanho e mesma aparência em pelo menos 100 cidades do mundo aonde ele, inclusive, tem o mesmo preço. A variação anual deste preço médio chama-se então o tal de “índice Big Mac”. Consistência... Esta é a palavra mágica do negócio de rede. É o abracadabra da conquista do cliente.
Fazer mágica em hotelaria é para Mandrake mesmo. Nosso setor é difícil, delicado e tinhoso. Não é fácil operar um business que tem comportamento diferente dos demais, mas tem o mesmo trato fiscal e previdenciário. Não é fácil operar um business que trata com o sono e a alimentação do seu cliente. Não é fácil mesmo tratar de um negócio que, a parte de uma cidade como São Paulo, sofre muito com a sazonalidade e com os dias de ócio forçado, como noites espremidas entre feriados. As margens apertadas não permitem grandes peripécias operacionais e todo nosso esforço acaba sendo em vendas & marketing. Como consequência acabamos todos, brand ou não, nadando no oceano vermelho da competição feroz.
As grandes marcas hoteleiras internacionais deveriam oferecer solução para estes e outros problemas e confesso, algumas até oferecem. Ao contratar uma franquia internacional hoteleira você busca um atalho nos seus processos de desenvolvimento, pois assume que revisão de projetos construtivos, aprovação de localização, consultoria de aprovações, de projeto de interiores, auxilio na elaboração de BP e de orçamento entre outras coisas, estão incluídas no preço.
O problema das maiores empresas hoteleiras do mundo que optaram por crescer na América via franquias, é que quase todas optaram por fazer negócios individuais com empresários operadores e investidores por aqui. Para fazer um negócio de franquia apenas no Brasil, não vale o esforço. Para o franqueado, é o mesmo. Todos os investidores são esmagados com as taxas de franquia, royalties, marketing e mariolas somadas aos custos de operação de um hotel digamos midscale. Os próprios criadores mataram todas as franquio-criaturas e os seus negócios antes mesmo que nascessem. Os custos de franquia chegam a números cósmicos tais quais 12% da receita do franqueado. Apenas uma marca hoteleira internacional optou por desenvolver parceiros franqueados no Brasil através de empresas hoteleiras acostumadas ao nosso ambiente difícil, delicado e tinhoso. Graças a um engenhoso “rachid” de taxas, conseguiram viabilizar cerca de 60 hotéis de marca internacional no Brasil oferecendo ao hóspede "Brazuca" a tal da consistência.
Esta palavrinha (consistência) permeia nossas decisões de compra de hospedagem por anos, associada a localização. Se viajarmos de férias e não conhecemos bem o lugar para onde vamos, aquela marca que conhecemos e da qual somos clientes, nos garante o conforto de pouco risco. Isto é a tal fidelidade a marca, que se ganha com consistência. Chateie não: sou meio repetitivo mesmo.
Conhecer o inimigo é função primaria na guerra pelo cliente e, neste cenário, ganha quem opera bem o seu Big Mac. Consistência é fundamental, mas precisa ser entendida dos dois lados do balcão. Isso, só uma marca forte te dá. A questão é quanto você está disposto a pagar."
*Julio Gavinho é executivo da área de hotelaria com 30 anos de experiência, fundador da doispontozero Hotéis, criador da marca ZiiHotel, sócio e Diretor da MTD Hospitality.
"O Big Mac foi criado por um franqueado, e não pelo McDonald’s. O criador em questão, Mr. Deligatti atendeu ao desejo do público de uma refeição mais parruda e com isso, criou um dos índices econômicos mais confiáveis do mundo. O “The Economist” só deu nome e comparou os 100 países, batizando o Big Mac index.
Mas afinal, qual o segredo do sucesso de uma marca que atende famintos em Nova Iorque, Paris, Londres, Moscou e Beijing? A consistência. Veja bem: o Big Mac tem o mesmo gosto, mesmo tamanho e mesma aparência em pelo menos 100 cidades do mundo aonde ele, inclusive, tem o mesmo preço. A variação anual deste preço médio chama-se então o tal de “índice Big Mac”. Consistência... Esta é a palavra mágica do negócio de rede. É o abracadabra da conquista do cliente.
Fazer mágica em hotelaria é para Mandrake mesmo. Nosso setor é difícil, delicado e tinhoso. Não é fácil operar um business que tem comportamento diferente dos demais, mas tem o mesmo trato fiscal e previdenciário. Não é fácil operar um business que trata com o sono e a alimentação do seu cliente. Não é fácil mesmo tratar de um negócio que, a parte de uma cidade como São Paulo, sofre muito com a sazonalidade e com os dias de ócio forçado, como noites espremidas entre feriados. As margens apertadas não permitem grandes peripécias operacionais e todo nosso esforço acaba sendo em vendas & marketing. Como consequência acabamos todos, brand ou não, nadando no oceano vermelho da competição feroz.
As grandes marcas hoteleiras internacionais deveriam oferecer solução para estes e outros problemas e confesso, algumas até oferecem. Ao contratar uma franquia internacional hoteleira você busca um atalho nos seus processos de desenvolvimento, pois assume que revisão de projetos construtivos, aprovação de localização, consultoria de aprovações, de projeto de interiores, auxilio na elaboração de BP e de orçamento entre outras coisas, estão incluídas no preço.
O problema das maiores empresas hoteleiras do mundo que optaram por crescer na América via franquias, é que quase todas optaram por fazer negócios individuais com empresários operadores e investidores por aqui. Para fazer um negócio de franquia apenas no Brasil, não vale o esforço. Para o franqueado, é o mesmo. Todos os investidores são esmagados com as taxas de franquia, royalties, marketing e mariolas somadas aos custos de operação de um hotel digamos midscale. Os próprios criadores mataram todas as franquio-criaturas e os seus negócios antes mesmo que nascessem. Os custos de franquia chegam a números cósmicos tais quais 12% da receita do franqueado. Apenas uma marca hoteleira internacional optou por desenvolver parceiros franqueados no Brasil através de empresas hoteleiras acostumadas ao nosso ambiente difícil, delicado e tinhoso. Graças a um engenhoso “rachid” de taxas, conseguiram viabilizar cerca de 60 hotéis de marca internacional no Brasil oferecendo ao hóspede "Brazuca" a tal da consistência.
Esta palavrinha (consistência) permeia nossas decisões de compra de hospedagem por anos, associada a localização. Se viajarmos de férias e não conhecemos bem o lugar para onde vamos, aquela marca que conhecemos e da qual somos clientes, nos garante o conforto de pouco risco. Isto é a tal fidelidade a marca, que se ganha com consistência. Chateie não: sou meio repetitivo mesmo.
Conhecer o inimigo é função primaria na guerra pelo cliente e, neste cenário, ganha quem opera bem o seu Big Mac. Consistência é fundamental, mas precisa ser entendida dos dois lados do balcão. Isso, só uma marca forte te dá. A questão é quanto você está disposto a pagar."
*Julio Gavinho é executivo da área de hotelaria com 30 anos de experiência, fundador da doispontozero Hotéis, criador da marca ZiiHotel, sócio e Diretor da MTD Hospitality.
domingo, 14 de agosto de 2016
"Mercado velho não aprende truque novo", por Julio Gavinho
"O Frederich Nietzche disse uma vez que "a certeza é maior inimiga da verdade do que a mentira.". Bastante oportuno quando discutimos negócios internacionais, especialmente aqueles que envolvem posturas tão distintas. Empresas de porte internacional quando chegam nas terras de Capitu (aquela, dos olhos negros como a graúna) tem dois caminhos a seguir: ou "abrasileiram-se" ou tentam impor seu modus operandi a nós. No segmento de hotéis e resorts não é diferente. Por certo que meus argumentos podem ser escrutinados em seu fundamento com uma simples olhada matemática no mercado, mas como eu tenho que encher uns toques vou dialogar com você. Não existem marcas hoteleiras desenvolvidas pelos players internacionais para o mercado brasileiro, olhando para o hóspede brasileiro e suas necessidades. A marca melhor identificada conosco, é uma marca francesa que colou no gosto brazuca a ponto de se transformar em uma metonímia hoteleira: "veja se nesta cidade tem um hotel assim, tipo Ibis!". Entendeu? Fora nossos amigos, herdeiros bem sucedidos de Villegagnon, ninguém conseguiu esta façanha. Por que? Porque a certeza ofende a realidade, substituindo a verdade do início. Marcas bem sucedidas na Croácia, podem não ser tão bem sucedidas no Brasil, assim como no Peru ou México. O negócio da consistência, da certeza per se, só se aplica a novos mercados depois de muita, mas muita pesquisa. Converse com a Carolina Narloch da empresa Mapie Especialistas Estratégicos e ela te explica. Outro olhar sobre estrangeiros operando seus produtos por aqui com boas margens de lucro, seria sobre as montadoras de automóveis que, inteligentemente, desenvolveram carros no Brasil para os brasileiros. Das auto! O desconhecimento e o desdém pelas regras do "Dr. Mercado" brasileiro funcionam como uma âncora no crescimento de empresas hoteleiras americanas, pesando tanto que apenas permitem a sobrevivência em duas capitais e, mesmo assim, com seus próprios investimentos. Outra marca americana, entretanto, já conta seus hotéis do Oiapoque ao Chuí as dezenas, pois entendeu o querem os investidores e clientes brasileiros. Aprendeu rápido as tais "rules of the engagement" e está indo bem, considerando nosso cenário nos atuais dias de Temer. Operar em um país com as dimensões e características culturais do Brasil exige profundo estudo e presença local intensiva, principalmente com poder de decisão, e adaptação aos diferentes modelos de negócio praticados por aqui. Não agir assim, certamente levará estas marcas a transformar seu desejo de implantar hotéis no modelo "plug and play" (ligue e opere) para a realidade de desenvolvimento "plug and pray" (ligue e reze). Enquanto isso, o Patrick Mendes e sua trupe furiosa continua a cozinhar um hotel por dia, conquistando o Brasil tal e qual queria seu compatriota, o tal Nicolas de Villegagnon. "Well done", devem estar dizendo os inimigos."
*Julio Gavinho é executivo da área de hotelaria com 30 anos de experiência, fundador da doispontozero Hotéis e criador da marca ZiiHotel.
*Julio Gavinho é executivo da área de hotelaria com 30 anos de experiência, fundador da doispontozero Hotéis e criador da marca ZiiHotel.
sábado, 9 de julho de 2016
"Hora de lavar toda a lama", por Julio Gavinho
Apesar de toda a crise política e econômica, não dá para ser totalmente pessimista num país privilegiado como o Brasil.
A cada dia deste aziago ano de 2016 surge um novo desdobramento da operação Lava Jato, na forma de prisões, indiciamentos, encaminhamentos ou conduções coercitivas de políticos das mais variadas ideologias e partidos. Os reflexos econômicos dessa crise política têm sido nefastos no nível de produção, emprego e renda, num processo recessivo que se auto-alimenta. Nossa primeira reação é de total pessimismo em relação às perspectivas da economia nacional, que parece rodar dentro de um túnel mais extenso que o acaba de ser inaugurado na Suíça. Com a diferença que o túnel suíço é uma obra-prima em todos os sentidos – principalmente engenharia e gestão –, enquanto nosso túnel metafórico é uma obra-prima de ineficiência e corrupção.
Seria o caso, então, o caso de sucumbir ao desânimo, jogar os botes salva-vidas ao mar e abandonar este enorme navio chamado Brasil? Esta é, realmente, “a maior crise política e econômica de nossa história”, como apregoam alguns analistas? Justifica-se tanto pessimismo no país que possui a quinta superfície e, coincidentemente, a quinta população – e, portanto, mercado – do planeta? Que não tem grandes desertos nem catástrofes naturais, como terremotos ou furacões devastadores? E que, ao contrário, abriga imensos recursos naturais, como reservas de água doce, jazidas de minérios e terras férteis? Ser pessimista num país privilegiado como este é admitir a total incapacidade do povo que a habita – ou seja, nós, brasileiros.
Crises sempre existiram, e sempre hão de existir, tanto políticas quanto econômicas. No caso da economia, existe inclusive o conceito do ‘ciclo econômico’, caracterizado por uma alternância de períodos de crescimento relativamente rápido do produto (recuperação e prosperidade), com períodos de relativa estagnação ou declínio (contração ou recessão). Em poucas palavras, nenhuma crise ou bonança são eternos. Ainda bem! Já na política, pode até haver alternância entre partidos e ideologias, mas que, cedo ou tarde, acabam sucumbindo à mesma tentação de tirar proveito do poder – que invariavelmente corrompe.
Já que o Brasil não vai afundar definitivamente, cabe tirar alguma lição do atual contexto político nacional, de modo a que, como nos ensina – ou, deveria ensinar – a História, os males não repitam. Imbuídos desse espírito otimista, vale observar que “nunca na História deste País”, se pegou tanto corrupto com a mão na botija ou, pelo menos, com as evidências de ter colocado a mão na botija. Nunca se pegou tanto político, acólito ou cidadão comum comprometido com a corrupção, como agora. Obviamente, alguns deles vão escapar de um castigo exemplar, por se “fingirem de mortos” ou por falta de provas. Mas só o simples fato de alguns “peixes graúdos”, com foro privilegiado, terem sido indiciados e até condenados já um enorme avanço em relação à impunidade que sempre reinou neste País. É a prova incontestável de que corrupção pode ainda ser digna de uma República de Bananas, mas as instituições já são de um país evoluído. Cabe agora ao povo – ou seja, todos nós – preservar essa conquista, para que o Brasil evolua como um todo e seja digno de sua grandeza.
* Julio Gavinho é é executivo da área de hotelaria com 30 anos de experiência, fundador da doispontozero Hotéis e criador da marca ZiiHotel.
A cada dia deste aziago ano de 2016 surge um novo desdobramento da operação Lava Jato, na forma de prisões, indiciamentos, encaminhamentos ou conduções coercitivas de políticos das mais variadas ideologias e partidos. Os reflexos econômicos dessa crise política têm sido nefastos no nível de produção, emprego e renda, num processo recessivo que se auto-alimenta. Nossa primeira reação é de total pessimismo em relação às perspectivas da economia nacional, que parece rodar dentro de um túnel mais extenso que o acaba de ser inaugurado na Suíça. Com a diferença que o túnel suíço é uma obra-prima em todos os sentidos – principalmente engenharia e gestão –, enquanto nosso túnel metafórico é uma obra-prima de ineficiência e corrupção.
Seria o caso, então, o caso de sucumbir ao desânimo, jogar os botes salva-vidas ao mar e abandonar este enorme navio chamado Brasil? Esta é, realmente, “a maior crise política e econômica de nossa história”, como apregoam alguns analistas? Justifica-se tanto pessimismo no país que possui a quinta superfície e, coincidentemente, a quinta população – e, portanto, mercado – do planeta? Que não tem grandes desertos nem catástrofes naturais, como terremotos ou furacões devastadores? E que, ao contrário, abriga imensos recursos naturais, como reservas de água doce, jazidas de minérios e terras férteis? Ser pessimista num país privilegiado como este é admitir a total incapacidade do povo que a habita – ou seja, nós, brasileiros.
Crises sempre existiram, e sempre hão de existir, tanto políticas quanto econômicas. No caso da economia, existe inclusive o conceito do ‘ciclo econômico’, caracterizado por uma alternância de períodos de crescimento relativamente rápido do produto (recuperação e prosperidade), com períodos de relativa estagnação ou declínio (contração ou recessão). Em poucas palavras, nenhuma crise ou bonança são eternos. Ainda bem! Já na política, pode até haver alternância entre partidos e ideologias, mas que, cedo ou tarde, acabam sucumbindo à mesma tentação de tirar proveito do poder – que invariavelmente corrompe.
Já que o Brasil não vai afundar definitivamente, cabe tirar alguma lição do atual contexto político nacional, de modo a que, como nos ensina – ou, deveria ensinar – a História, os males não repitam. Imbuídos desse espírito otimista, vale observar que “nunca na História deste País”, se pegou tanto corrupto com a mão na botija ou, pelo menos, com as evidências de ter colocado a mão na botija. Nunca se pegou tanto político, acólito ou cidadão comum comprometido com a corrupção, como agora. Obviamente, alguns deles vão escapar de um castigo exemplar, por se “fingirem de mortos” ou por falta de provas. Mas só o simples fato de alguns “peixes graúdos”, com foro privilegiado, terem sido indiciados e até condenados já um enorme avanço em relação à impunidade que sempre reinou neste País. É a prova incontestável de que corrupção pode ainda ser digna de uma República de Bananas, mas as instituições já são de um país evoluído. Cabe agora ao povo – ou seja, todos nós – preservar essa conquista, para que o Brasil evolua como um todo e seja digno de sua grandeza.
* Julio Gavinho é é executivo da área de hotelaria com 30 anos de experiência, fundador da doispontozero Hotéis e criador da marca ZiiHotel.
domingo, 19 de junho de 2016
Artigo de Julio Gavinho*: "Um potencial imenso desperdiçado"
"Carecemos de ações coordenadas entre os setores público e privado que divulguem e deem segurança para quem quer conhecer os inúmeros atrativos do nosso País.
Vivemos dias de Milena, aquela “primeira dama do turismo”, que se transformou na metonímia do turismo do Brasil. A coisa, pela coisa representada. O abandono e a falta de noção pelo trato governamental com nosso setor. Em tudo isso eu pensei voltando dos Estados Unidos para o Brasil.
Em 2014, o Brasil recebeu 656 mil turistas americanos. Eles vieram ocupando cerca de 40 poltronas por dia, espremidos entre 208 brasileiros em cada avião. São cinco brasileiros para cada americano em rotas majoritariamente da Flórida, Atlanta, Dallas e Houston. Segundo a revista Época, a média de 1.800 americanos circulando nos aeroportos brasileiros por dia representa 0,5% do total de americanos que viajaram para fora do seu país. Mais ou menos na mesma época, a Índia recebeu pouco mais de 1,2 milhão de turistas americanos. A Índia também exige e cobra pelo visto de turista dos americanos e fica muito longe dos Estados Unidos, fala um inglês todo especial para um turista de Arkansas, e suas condições de locomoção estão longe de se parecer com as autobahns alemãs. A alimentação oferece desafios sérios aos paladares menos acostumados ao “diferente” e o calor e as distâncias a serem percorridas a pé podem acabar com suas férias. Por que fazem todo este sacrifício, então, os 1% de viajantes internacionais norte-americanos? Porque a Índia oferece uma experiência que não pode ser vivida em nenhum outro lugar, só na Índia – e isto tem um preço. Em 2014, os indianos cobraram esse preço a 23 milhões de turistas, e significou quase 7% do PIB do país e cerca de 37 milhões de pessoas empregadas.
Mas por que eu estou falando tanto da Índia? Porque muitos dos meus pares acreditam que as dificuldades do Brasil no cenário turístico mundial se devem ao fato de estarmos longe, de não falarmos inglês, do visto que exigimos e da nossa indigesta feijoada. Vamos falar de outra coisa então. Segundo o governador da Flórida, Rick Scott, falando para hoteleiros, operadores de receptivo, restaurantes e transportadores turísticos, em 2014, 97 milhões de turistas visitaram Orlando, sendo 1,5 milhão de brasileiros, ou seja, 1,54% do total, segundo a globo.com. Somando a eles os britânicos, japoneses, canadenses e mexicanos, chegaremos ao percentual de cerca de 85% de turistas americanos na Flórida. Porque tantos americanos assim? Porque, para ir lá, os americanos, não precisam de passaporte, falam a mesma língua, não têm uma barreira gastronômica, e obviamente, por uma liberdade semântica minha, porque dá para ir a Disney “a pé”, se você morar no "Sul profundo" americano. No caso do Brasil, esse é o mesmo motivo para que a arrasadora maioria de brasileiros vai a Porto Seguro, Foz do Iguaçu, Salvador, Fortaleza e no Rio de Janeiro.
Na década passada, eu ouvi do então prefeito de Curitiba que “a cidade boa para os turistas é a cidade boa para seus habitantes”, e que os melhores investimentos que você pode fazer em promoção turística são os investimentos na qualidade de vida da sua população. Nos dias de hoje, a tecnologia da comunicação tornou suas sábias palavras ainda mais evidentes. Imagens ao vivo na CNN mostram arrastões na praia no Rio de Janeiro. O surto de dengue e a microcefalia? Na Fox News, o diretor do hospital de Fortaleza reclama da falta de recursos. Na capa dos New York Times, aparece o enésimo político flagrado tungando a merenda. Consequentemente, as autoridades americanas avisam: “Está pensando em ir ao Brasil? Pense de novo...”
Pense agora no que o cinema fez às nossas cabeças quanto ao nosso desejo de visitar a Índia, Paris, Flórida e Nova York. Já a nossa propaganda mais “eficiente” no cinema são as imagens e diálogos de Dadinho e o capitão Nascimento em Cidade de Deus. Ou seja: tendo inúmeros lugares entre os mais belos do mundo, apenas conseguimos vender nossos problemas e deficiências sociais. A política de turismo que precisa ser implantada inclui, é claro, um film comission atuante, publicidade e feiras internacionais, isenção de tarifas para charters etc. Carecemos de uma ação coordenada que dê segurança e tranqüilidade para quem quer curtir um samba, dançar um forró ou qualquer um dos atrativos de nosso país. Este não é um caso de varejo – se uma cidade ou outra é mais ou menos segura –, mas sim de atacado. Precisamos que nossa imagem seja reconstruída com urgência sob pena de dependermos dos nossos próprios bolsos ou da oscilante balança do turismo entre o Brasil e a Argentina."
*Julio Gavinho é executivo da área de hotelaria com 30 anos de experiência, ex-diretor da doispontozero Hotéis e criador da marca Zii Hotel.
Vivemos dias de Milena, aquela “primeira dama do turismo”, que se transformou na metonímia do turismo do Brasil. A coisa, pela coisa representada. O abandono e a falta de noção pelo trato governamental com nosso setor. Em tudo isso eu pensei voltando dos Estados Unidos para o Brasil.
Em 2014, o Brasil recebeu 656 mil turistas americanos. Eles vieram ocupando cerca de 40 poltronas por dia, espremidos entre 208 brasileiros em cada avião. São cinco brasileiros para cada americano em rotas majoritariamente da Flórida, Atlanta, Dallas e Houston. Segundo a revista Época, a média de 1.800 americanos circulando nos aeroportos brasileiros por dia representa 0,5% do total de americanos que viajaram para fora do seu país. Mais ou menos na mesma época, a Índia recebeu pouco mais de 1,2 milhão de turistas americanos. A Índia também exige e cobra pelo visto de turista dos americanos e fica muito longe dos Estados Unidos, fala um inglês todo especial para um turista de Arkansas, e suas condições de locomoção estão longe de se parecer com as autobahns alemãs. A alimentação oferece desafios sérios aos paladares menos acostumados ao “diferente” e o calor e as distâncias a serem percorridas a pé podem acabar com suas férias. Por que fazem todo este sacrifício, então, os 1% de viajantes internacionais norte-americanos? Porque a Índia oferece uma experiência que não pode ser vivida em nenhum outro lugar, só na Índia – e isto tem um preço. Em 2014, os indianos cobraram esse preço a 23 milhões de turistas, e significou quase 7% do PIB do país e cerca de 37 milhões de pessoas empregadas.
Mas por que eu estou falando tanto da Índia? Porque muitos dos meus pares acreditam que as dificuldades do Brasil no cenário turístico mundial se devem ao fato de estarmos longe, de não falarmos inglês, do visto que exigimos e da nossa indigesta feijoada. Vamos falar de outra coisa então. Segundo o governador da Flórida, Rick Scott, falando para hoteleiros, operadores de receptivo, restaurantes e transportadores turísticos, em 2014, 97 milhões de turistas visitaram Orlando, sendo 1,5 milhão de brasileiros, ou seja, 1,54% do total, segundo a globo.com. Somando a eles os britânicos, japoneses, canadenses e mexicanos, chegaremos ao percentual de cerca de 85% de turistas americanos na Flórida. Porque tantos americanos assim? Porque, para ir lá, os americanos, não precisam de passaporte, falam a mesma língua, não têm uma barreira gastronômica, e obviamente, por uma liberdade semântica minha, porque dá para ir a Disney “a pé”, se você morar no "Sul profundo" americano. No caso do Brasil, esse é o mesmo motivo para que a arrasadora maioria de brasileiros vai a Porto Seguro, Foz do Iguaçu, Salvador, Fortaleza e no Rio de Janeiro.
Na década passada, eu ouvi do então prefeito de Curitiba que “a cidade boa para os turistas é a cidade boa para seus habitantes”, e que os melhores investimentos que você pode fazer em promoção turística são os investimentos na qualidade de vida da sua população. Nos dias de hoje, a tecnologia da comunicação tornou suas sábias palavras ainda mais evidentes. Imagens ao vivo na CNN mostram arrastões na praia no Rio de Janeiro. O surto de dengue e a microcefalia? Na Fox News, o diretor do hospital de Fortaleza reclama da falta de recursos. Na capa dos New York Times, aparece o enésimo político flagrado tungando a merenda. Consequentemente, as autoridades americanas avisam: “Está pensando em ir ao Brasil? Pense de novo...”
Pense agora no que o cinema fez às nossas cabeças quanto ao nosso desejo de visitar a Índia, Paris, Flórida e Nova York. Já a nossa propaganda mais “eficiente” no cinema são as imagens e diálogos de Dadinho e o capitão Nascimento em Cidade de Deus. Ou seja: tendo inúmeros lugares entre os mais belos do mundo, apenas conseguimos vender nossos problemas e deficiências sociais. A política de turismo que precisa ser implantada inclui, é claro, um film comission atuante, publicidade e feiras internacionais, isenção de tarifas para charters etc. Carecemos de uma ação coordenada que dê segurança e tranqüilidade para quem quer curtir um samba, dançar um forró ou qualquer um dos atrativos de nosso país. Este não é um caso de varejo – se uma cidade ou outra é mais ou menos segura –, mas sim de atacado. Precisamos que nossa imagem seja reconstruída com urgência sob pena de dependermos dos nossos próprios bolsos ou da oscilante balança do turismo entre o Brasil e a Argentina."
*Julio Gavinho é executivo da área de hotelaria com 30 anos de experiência, ex-diretor da doispontozero Hotéis e criador da marca Zii Hotel.
domingo, 17 de abril de 2016
O homem (jurídico) invisível ou por uma política adequada para o setor, por Julio Gavinho*
"Minha mãe sempre me alertou sobre pessoas que não cumprimentam o porteiro, o caixa do supermercado, o faxineiro do banheiro público ou o ascensorista. Na sua sabia experiência, estas pessoas não seriam "pessoas boas", pois ignoravam aqueles que lhe mantinham a vida em ordem. Se uma pessoa é incapaz de cumprimentar o porteiro, coisa pior decerto faria.
O padrão da rígida educação que ela me passou, não permitia que eu considerasse estes profissionais como homens invisíveis. O trabalho, independente do que seja, “merece respeito e reconhecimento”, dizia ela.
O setor de hotelaria e turismo no Brasil é invisível para o governo e para uma boa parcela da sociedade. Por certo você já viu representantes da indústria automobilística, de bens duráveis e de comunicações entre outras, a opinar sobre seu próprio reflexo assim como, a defender seu quinhão como saída para a economia nacional. Advogam que a redução da alíquota do IPI, desoneração da folha e distribuição gratuita de mariolas vão ajudar a retomada do crescimento do Brasil e por conseqüência gerar empregos, impulsionando a economia. Ok, justo o suficiente: farinha pouca, meu pirão primeiro. Mas minha dúvida permanece: onde estão os representantes da hotelaria? Somos mais de R$50.000.000.000 (cinqüenta bilhões, uma pedaladinha fiscal!) de investimentos diretos em tijolos e concreto e mais de 300.000 empregos diretos e indiretos, de serventes de obra a engenheiros, de recepcionistas a gerentes gerais. Todos zelando por seu revigorante sono e aquele café da manhã de hotel que amamos. Mesmo assim, a nação e o Estado passam por nós e não nos dão bom dia, ou perguntam como temos passado.
Decerto que nós hoteleiros ainda sofremos do complexo Rodrigueano de vira-latas, que nos faz desmerecer automaticamente tudo que é nosso e nacional. Esta patologia perniciosa precisa ser tratada com drogas pesadas, como contratos temporários de trabalho, acesso facilitado ao crédito e volta da desoneração da folha de pagamento. Precisamos fortalecer nosso entendimento pessoal de que somos, todos nós hoteleiros, um setor fundamental para o desenvolvimento do país. Entretanto não conseguimos nem melhorar a oferta instalada, pois estamos estrangulados por custos e falta de crédito, nem desenvolver novos hotéis, pois nosso cobertor está curto na bainha de crédito e custos de construção – pressionados pela inflação. Se correr o bicho te quebra, se ficar o bicho te consome.
O nosso complexo Rodrigueano atinge nossos colegas gringos de forma mais pragmática ainda. No cenário atual, levando em conta risco de câmbio e o famigerado “risco Brasil”, os retornos são insuficientes para o mínimo conforto de investimento e daí, eles desistem antes mesmo de começar a pensar em “Brazil”. Considere as grandes cadeias como os "Hyatt" ou os "Marriott". São contados aos milhares de hotéis mundo a fora e em apenas uma mão no Brasil. O buraco do desenvolvimento é mais embaixo, eu sei. Mas experimente oferecer o mesmo modelo de encargos, tributação e crédito que eles têm em casa, e veja o boom de novos hotéis internacionais acontecerem, primeiro nas capitais e depois nas cidades secundárias.
O grande buraco de desenvolvimento entre nós e eles, é que eles constroem e reformam hotéis em progressão aritmética, com “fura-fila” no processo de aprovação, com crédito privado incentivado e acordos coletivos negociados que regulam as relações trabalho-capital. Tudo claro e feito para durar. E nós? E a durabilidade de nossas regras e acordos coletivos de trabalho? E a tributação sobre a compra, custo de aprovação e de construção? E custos de bens duráveis e sua entrega pelo Brasilzão? Não, eu não sofro do complexo de vira-latas. Eu já abri desenvolvi muitos hotéis ao redor no nosso amado país e, como O Piloto do “Pequeno Príncipe” (o próprio Saint Exupéry), troquei a inocência pelo pragmatismo, embora ainda tente ser um idiota romântico.
Back to the cold cow, o Jornal Nacional de 26 de março, celebrou 70.000 novos postos em manutenção, camareiras e auxiliares de serviços gerais. A matéria falava apenas de hotéis, com cozinheiro de hotel, garçom de hotel e camareira de hotel, embora fosse sobre o assunto mais amplo. Isto é reflexo do crescimento da oferta hoteleira que este ano vai ultrapassar os 10.000 hotéis, e os cerca de 500.000 quartos. Sensível crescimento, mas ainda pífio em face da necessidade que temos. Basta viajar a cidades como Três Lagoas ou Palmas, dínamos da economia nacional. Se você olhar mais de perto para certos segmentos do setor, como luxo e lifestyle, você chegará à conclusão de que ainda temos espaço para projetos no Rio, São Paulo e Brasília.
Para concluir então, pergunto: Porque então que esta roda de desenvolvimento não gira? A base de custo do nosso setor nos asfixia. A hotelaria brasileira não agüenta mais ser invisível aos olhos públicos, sendo preterida aonde outros setores são beneficiados. Praticamos uma atividade sazonal e devemos ter direito a contratar profissionais de forma sazonal, crescendo junto com temporada e recolhendo os "flaps" fora dela. A hotelaria brasileira não agüenta mais ser invisível aos olhos públicos, sendo preterida no cálculo do metro cúbico de água e esgoto ou nas bandeiras do cálculo do KW/h. Precisamos sim de premiação por captação própria de água ou geração de energia. Carecemos de incentivo tal qual recebem todas as outras atividades melhor representadas perante o governo. O segundo item é o acesso amplo ao crédito nas mesmas condições que recebem obras de infra-estrutura e grandes produtores rurais. Nossos processos de financiamento precisam de celeridade e de regras específicas de enquadramento e garantias. A hotelaria brasileira não agüenta mais esperar 1 ou 2 anos por uma resposta de crédito, seja positiva ou negativa. Quando recorremos aos bancos privados, como Itaú, Bradesco ou Santander, são 90 intermináveis dias. Há a questão do custo efetivo deles, eu sei. Porém nenhum dos três grandes players está comprometido em estatuto com o Desenvolvimento Econômico e Social do Brasil. Seu compromisso é com o lucro e, sem dúvida, é isso que os faz grande.
Eu milito neste setor há 29 anos (30 em agosto deste ano) e já carreguei mala, já cozinhei, já montei café da manhã, já fui auditor noturno, gerente, diretor de vendas, de marketing, de desenvolvimento, de aquisições, e presidente de empresa. O tempo passa agora mais rápido para mim, e eu gostaria nesta vida de ver um setor forte, com políticas públicas pensadas por nós e para nós, com crédito responsável porém disponível de forma isonômica, para que este setor possa então, contribuir para a devolução do Brasil ao seu lugar de direito na arena mundial.
O lugar de destaque entre as maiores economias, aonde é impossível passar por homem invisível."
*Julio Gavinho é executivo da área de hotelaria com 30 anos de experiência, fundador da doispontozero Hotéis e criador da marca Zii Hotel.
O padrão da rígida educação que ela me passou, não permitia que eu considerasse estes profissionais como homens invisíveis. O trabalho, independente do que seja, “merece respeito e reconhecimento”, dizia ela.
O setor de hotelaria e turismo no Brasil é invisível para o governo e para uma boa parcela da sociedade. Por certo você já viu representantes da indústria automobilística, de bens duráveis e de comunicações entre outras, a opinar sobre seu próprio reflexo assim como, a defender seu quinhão como saída para a economia nacional. Advogam que a redução da alíquota do IPI, desoneração da folha e distribuição gratuita de mariolas vão ajudar a retomada do crescimento do Brasil e por conseqüência gerar empregos, impulsionando a economia. Ok, justo o suficiente: farinha pouca, meu pirão primeiro. Mas minha dúvida permanece: onde estão os representantes da hotelaria? Somos mais de R$50.000.000.000 (cinqüenta bilhões, uma pedaladinha fiscal!) de investimentos diretos em tijolos e concreto e mais de 300.000 empregos diretos e indiretos, de serventes de obra a engenheiros, de recepcionistas a gerentes gerais. Todos zelando por seu revigorante sono e aquele café da manhã de hotel que amamos. Mesmo assim, a nação e o Estado passam por nós e não nos dão bom dia, ou perguntam como temos passado.
Decerto que nós hoteleiros ainda sofremos do complexo Rodrigueano de vira-latas, que nos faz desmerecer automaticamente tudo que é nosso e nacional. Esta patologia perniciosa precisa ser tratada com drogas pesadas, como contratos temporários de trabalho, acesso facilitado ao crédito e volta da desoneração da folha de pagamento. Precisamos fortalecer nosso entendimento pessoal de que somos, todos nós hoteleiros, um setor fundamental para o desenvolvimento do país. Entretanto não conseguimos nem melhorar a oferta instalada, pois estamos estrangulados por custos e falta de crédito, nem desenvolver novos hotéis, pois nosso cobertor está curto na bainha de crédito e custos de construção – pressionados pela inflação. Se correr o bicho te quebra, se ficar o bicho te consome.
O nosso complexo Rodrigueano atinge nossos colegas gringos de forma mais pragmática ainda. No cenário atual, levando em conta risco de câmbio e o famigerado “risco Brasil”, os retornos são insuficientes para o mínimo conforto de investimento e daí, eles desistem antes mesmo de começar a pensar em “Brazil”. Considere as grandes cadeias como os "Hyatt" ou os "Marriott". São contados aos milhares de hotéis mundo a fora e em apenas uma mão no Brasil. O buraco do desenvolvimento é mais embaixo, eu sei. Mas experimente oferecer o mesmo modelo de encargos, tributação e crédito que eles têm em casa, e veja o boom de novos hotéis internacionais acontecerem, primeiro nas capitais e depois nas cidades secundárias.
O grande buraco de desenvolvimento entre nós e eles, é que eles constroem e reformam hotéis em progressão aritmética, com “fura-fila” no processo de aprovação, com crédito privado incentivado e acordos coletivos negociados que regulam as relações trabalho-capital. Tudo claro e feito para durar. E nós? E a durabilidade de nossas regras e acordos coletivos de trabalho? E a tributação sobre a compra, custo de aprovação e de construção? E custos de bens duráveis e sua entrega pelo Brasilzão? Não, eu não sofro do complexo de vira-latas. Eu já abri desenvolvi muitos hotéis ao redor no nosso amado país e, como O Piloto do “Pequeno Príncipe” (o próprio Saint Exupéry), troquei a inocência pelo pragmatismo, embora ainda tente ser um idiota romântico.
Back to the cold cow, o Jornal Nacional de 26 de março, celebrou 70.000 novos postos em manutenção, camareiras e auxiliares de serviços gerais. A matéria falava apenas de hotéis, com cozinheiro de hotel, garçom de hotel e camareira de hotel, embora fosse sobre o assunto mais amplo. Isto é reflexo do crescimento da oferta hoteleira que este ano vai ultrapassar os 10.000 hotéis, e os cerca de 500.000 quartos. Sensível crescimento, mas ainda pífio em face da necessidade que temos. Basta viajar a cidades como Três Lagoas ou Palmas, dínamos da economia nacional. Se você olhar mais de perto para certos segmentos do setor, como luxo e lifestyle, você chegará à conclusão de que ainda temos espaço para projetos no Rio, São Paulo e Brasília.
Para concluir então, pergunto: Porque então que esta roda de desenvolvimento não gira? A base de custo do nosso setor nos asfixia. A hotelaria brasileira não agüenta mais ser invisível aos olhos públicos, sendo preterida aonde outros setores são beneficiados. Praticamos uma atividade sazonal e devemos ter direito a contratar profissionais de forma sazonal, crescendo junto com temporada e recolhendo os "flaps" fora dela. A hotelaria brasileira não agüenta mais ser invisível aos olhos públicos, sendo preterida no cálculo do metro cúbico de água e esgoto ou nas bandeiras do cálculo do KW/h. Precisamos sim de premiação por captação própria de água ou geração de energia. Carecemos de incentivo tal qual recebem todas as outras atividades melhor representadas perante o governo. O segundo item é o acesso amplo ao crédito nas mesmas condições que recebem obras de infra-estrutura e grandes produtores rurais. Nossos processos de financiamento precisam de celeridade e de regras específicas de enquadramento e garantias. A hotelaria brasileira não agüenta mais esperar 1 ou 2 anos por uma resposta de crédito, seja positiva ou negativa. Quando recorremos aos bancos privados, como Itaú, Bradesco ou Santander, são 90 intermináveis dias. Há a questão do custo efetivo deles, eu sei. Porém nenhum dos três grandes players está comprometido em estatuto com o Desenvolvimento Econômico e Social do Brasil. Seu compromisso é com o lucro e, sem dúvida, é isso que os faz grande.
Eu milito neste setor há 29 anos (30 em agosto deste ano) e já carreguei mala, já cozinhei, já montei café da manhã, já fui auditor noturno, gerente, diretor de vendas, de marketing, de desenvolvimento, de aquisições, e presidente de empresa. O tempo passa agora mais rápido para mim, e eu gostaria nesta vida de ver um setor forte, com políticas públicas pensadas por nós e para nós, com crédito responsável porém disponível de forma isonômica, para que este setor possa então, contribuir para a devolução do Brasil ao seu lugar de direito na arena mundial.
O lugar de destaque entre as maiores economias, aonde é impossível passar por homem invisível."
*Julio Gavinho é executivo da área de hotelaria com 30 anos de experiência, fundador da doispontozero Hotéis e criador da marca Zii Hotel.
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