terça-feira, 5 de outubro de 2010

Mário Sampaio

O carioca Mário José de Bittencourt Sampaio, mais conhecido como Mário Sampaio, é economista, com cursos de pós-graduação de Engenharia Econômica e Administração Financeira e sócio da Multiplan, empresa especializada em consultoria aeronáutica. Sampaio que já trabalhou na Confederação Nacional da Indústria como economista e depois como analista financeiro em uma corretora da Bolsa de Valores, hoje presta também serviços de consultoria a Airbus no Brasil.
(entrevista publicada em abril de 2006)


Qual a participação da Airbus hoje no Brasil e na América Latina?
Nos últimos 10 anos, a Airbus obteve aproximadamente 70% das vendas de aviões novos acima de 110 lugares em nosso continente. Como a idade média da frota local é relativamente avançada (muitos aviões antigos), a participação da Airbus, apesar de rapidamente crescente, é de 27,5% segundo dados recentes.
No Brasil, a frota de aviões Airbus corresponde a 27% das aeronaves comerciais com mais de 100 lugares, contra apenas 1,5% em 1997.

Quais as perspectivas atuais da Airbus com novas empresas aéreas no Brasil?
A Airbus há nove anos voltou com força ao mercado brasileiro e mantém contatos com todas as empresas existentes. Hoje, no Brasil existem duas grandes empresas apresentando boas condições financeiras. A TAM é uma delas e é nossa cliente. Existem contatos com as demais empresas. Mas, a troca de equipamentos de uma companhia de aviação exige investimentos em peças e ferramental, tornando essa mudança onerosa. Com relação às empresas menores que estão surgindo, tem havido contatos e são feitos acompanhamentos freqüentes. A Airbus está atenta a todos os segmentos do mercado.

Existe alguma negociação para a venda de outro Airbus ACJ para a Força Aérea Brasileira?
Não existem contatos nesse sentido. O Airbus ACJ que opera para a FAB foi vendido após uma concorrência, onde nosso preço foi menor e o desempenho superior. O avião preenche as exigências feitas durante o levantamento de preços e de desempenho.

E com relação a demais forças aéreas de países da América Latina?
O primeiro país a adquirir o ACJ foi à Venezuela, (usado também para transporte oficial), seguido pouco depois pelo Brasil. Hoje não existe nenhuma negociação em andamento. Mas, toda vez que houver uma concorrência, claro que a Airbus vai estar presente.

Atualmente, existe alguma negociação para a venda do ACJ a operadores privados no Brasil e qual a perspectiva de venda para o modelo no mercado brasileiro?
O mercado no Brasil para este tipo de avião é hoje estimado em cinco aviões para os próximos dez anos, uma média de uma aeronave a cada dois anos. A demanda de jatos executivos em nosso país é a terceira maior do mundo e a segunda da América Latina (após o México). Com o crescimento desse mercado, certamente a venda de aviões dessa categoria vai crescer e ultrapassar as projeções conservadoras atuais.

Nos últimos anos a Boeing, vem lançando uma série de melhorias em seus modelos e mais recentemente lançou o 787.  A depois do A380 parece que ficou um pouco acomodada com relação a aperfeiçoamentos de seus modelos. Esta impressão é devido forte marketing da Boeing ou a Airbus ficou mesmo parada no tempo enquanto a Boeing evoluía seus modelos?
Bem inicialmente é necessário lembrar que a Airbus ultrapassou as vendas de seu concorrente em cinco dos últimos seis anos e ele precisava reagir. Em acréscimo, se analisarmos todas as linhas de produtos verificamos que as famílias da Airbus eram todas bem mais novas. A Airbus tem procurado manter uma constante evolução de seus produtos, como a nova versão do A340-600 homologada essa semana. Mas confesso que algumas vezes reverencio a linha de comunicações sobre assuntos técnicos de nosso concorrente. O A320, por exemplo, recebeu ano passado modificações (e foi homologado) para operar em pistas curtas, como o Santos Dumont. No Brasil, já estão voando 8 aviões com essas mudança e na verdade isso foi pouco divulgado. O lançamento do birreator para 200/250 passageiros do concorrente foi feito para recuperar mercado. E era necessário criar um modelo totalmente novo por que o seu antecessor estava completamente ultrapassado, por ser um projeto do final da década de 70 (767). A Airbus reavalia o mercado constantemente e lançou o A350 que hoje é um avião que tem 95% de suas partes inteiramente novas, mas mantém a comunalidade de pilotagem e manutenção com a família A330/A340. A Airbus evolui e continua a evoluir sempre de forma muito rápida.

A Boeing lançou recentemente o 787 Dreamliner enquanto a Airbus basicamente realizou um upgrade no A330. Qual a justificativa para não lançar um novo modelo?
Como eu já expliquei, o concorrente tinha que lançar algo novo para recuperar mercado já que alguns de seus aviões (767 e 757) estavam ultrapassados. A Airbus ao lançar o A350 inicialmente se baseou no A330, que era um projeto recente, mas isso mudou. O A350 adotou tecnologia do A380 e se transformou. Hoje é um avião plenamente competitivo em todas as áreas e 95% de suas partes são novas. As aparências às vezes enganam. As asas são novas e feitas em materiais compostos. A cauda é nova, assim como as turbinas. O trem de pouso é mais longo e maior. As janelas são maiores. O nariz tem novo perfil. A fuselagem tem novas ligas metálicas e a cabine de passageiros é mais larga. A cabine de comando tem a configuração e instrumentos do A380. Os sistemas foram mudados. O alcance e a velocidade são também maiores. O que realmente restou é que a pilotagem é a mesma assim como a manutenção, permitindo total comunalidade de pilotos e de manutenção com a família A330/A340, um item que nosso concorrente não atingiu. É claro que existem estudos de novos projetos em todos os segmentos de mercado, mantendo a tradição de avanços tecnológicos da Airbus.

O A330 é basicamente a versão bimotor do A340, existe algum estudo para o lançament ode uma versão quadrimotor do A350, sendo então este um substituto para o A340?
No momento não existe nenhum estudo visando criar uma versão quadrirreatora do A350. Mas, o A340 continua a receber melhorias técnicas e esta semana [abril/2006] foi homologado um A340-600 com maior alcance. Breve, novas versões poderão ser anunciadas. Mas, são mercados distintos. Os quadrirretores oferecem sempre vantagens sob condições ETOPS.

Quais as perspectivas da Airbus para o mercado mundial?
A Airbus sempre teve intenção de deter 50% do mercado, até porque as companhias aéreas não querem um fabricante de aviões único. É bom para elas que existam dois fabricantes competindo. Claro que algumas vezes a Airbus pode ter 55% e em outras 45%, mas a intenção é brigar sempre para obter uma média em torno de 50%.

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