Somemos a esta observação a visão de Fernando Pessoa num de seus clássicos poemas logo abaixo, onde enfatiza o ser (e sua imaginação para sentir) como contrapontos da necessidade de viajar, deslocando-se de um lugar ao outro. Ora, se juntarmos a imaginação à vivência nos mais diversos lugares e junto às mais diversas culturas, que mais estímulos pode ter um ser que de nômade num passado remoto evoluiu para um sedentarismo hoje alterado por um dinamismo calcado sobre tecnologias inexistentes há um século? A chamada Aldeia Global de McLuhan deu lugar à atual globalização numa proporção inimaginável décadas atrás.
Viajar? Para viajar basta existir. Vou de dia para dia, como de estação
para estação, no comboio do meu corpo, ou do meu destino, debruçado sobre as ruas e as
praças, sobre os gestos e os rostos, sempre iguais e sempre diferentes, como,
afinal, as paisagens são.
Se imagino, vejo. Que mais faço eu se viajo? Só a fraqueza extrema da
imaginação justifica que se tenha que deslocar para sentir.
"Qualquer estrada, esta mesma estrada de Entepfuhl, te levará até ao fim do
mundo".
Mas o fim do mundo, desde que o mundo se consumou dando-lhe a volta, é o
mesmo Entepfuhl de onde se partiu. Na realidade, o fim do mundo, como o
principio, é o nosso conceito do mundo.
É em nós que as paisagens tem paisagem. Por isso, se as imagino, as crio;
se as crio, são; se são, vejo-as como ás outras. Para que viajar? Em Madrid,
em Berlim, na Pérsia, na China, nos Pólos ambos, onde estaria eu senão em
mim mesmo, e no tipo e gênero das minhas sensações?
A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos, não
é o que vemos, senão o que somos.
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