segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Das Viagens e dos Destinos

Quando falamos em viajar, é normal associar esta palavra a lazer. Passeios por novos lugares; paisagens; sabores e sensações. O turismo, normalmente está associado a viagens, a não ser que você faça turismo em sua própria cidade. E, quando falamos em viagens, fatalmente há uma origem e destino. É nesse caminho, de ida e volta mais o destino propriamente dito, onde encontramos todas as nuances de experiências únicas a serem gravadas nas lembranças, como um registro fotográfico. Tudo que acontece no caminho e no destino preenche um tempo único, inigualável e que merece ser explorado e aproveitado intensamente, não só quando é uma viagem a lazer, mas também a trabalho, pois culturas são confrontadas, trocas são feitas, os contatos estimulam e todos crescem a cada instante, num círculo virtuoso, constante e estimulante. 

Somemos a esta observação a visão de Fernando Pessoa num de seus clássicos poemas logo abaixo, onde enfatiza o ser (e sua imaginação para sentir) como contrapontos da necessidade de viajar, deslocando-se de um lugar ao outro. Ora, se juntarmos a imaginação à vivência nos mais diversos lugares e junto às mais diversas culturas, que mais estímulos pode ter um ser que de nômade num passado remoto evoluiu para um sedentarismo hoje alterado por um dinamismo calcado sobre tecnologias inexistentes há um século? A chamada Aldeia Global de McLuhan deu lugar à atual globalização numa proporção inimaginável décadas atrás.

Viajar? Para viajar basta existir. Vou de dia para dia, como de estação
para estação, no comboio do meu corpo, ou do meu destino, debruçado sobre as ruas e as
praças, sobre os gestos e os rostos, sempre iguais e sempre diferentes, como,
afinal, as paisagens são.

Se imagino, vejo. Que mais faço eu se viajo? Só a fraqueza extrema da
imaginação justifica que se tenha que deslocar para sentir.

"Qualquer estrada, esta mesma estrada de Entepfuhl, te levará até ao fim do
mundo".
Mas o fim do mundo, desde que o mundo se consumou dando-lhe a volta, é o
mesmo Entepfuhl de onde se partiu. Na realidade, o fim do mundo, como o
principio, é o nosso conceito do mundo.
É em nós que as paisagens tem paisagem. Por isso, se as imagino, as crio;
se as crio, são; se são, vejo-as como ás outras. Para que viajar? Em Madrid,
em Berlim, na Pérsia, na China, nos Pólos ambos, onde estaria eu senão em
mim mesmo, e no tipo e gênero das minhas sensações?

A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos, não
é o que vemos, senão o que somos.

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