quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Crise iminente de caixa ameaça as empresas aéreas

A Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA - International Air Transport Association) alertou que a indústria do transporte aéreo irá queimar US$77 bilhões de seu caixa durante a segunda metade de 2020 (quase US$13 bilhões/mês ou US$300.000 por minuto), apesar da retomada das operações. A lenta recuperação do setor aéreo fará com que a indústria da aviação continue a queimar caixa a uma razão média de US$5 a US$6 bilhões por mês em 2021.

A IATA recorreu aos governos para darem apoio à indústria durante a próxima temporada de inverno no hemisfério norte através de medidas adicionais de auxílio, incluindo ajuda financeira que não agregue mais dívidas aos balanços já altamente comprometidos da indústria. Até o momento, governos ao redor do mundo já concederam US$160 bilhões de auxílio, incluindo ajuda direta, subsídio a salários, isenção de tributos corporativos e alívios tributários específicos à indústria incluindo impostos sobre combustíveis.

"Somos gratos por esse apoio que se destina a garantir que a indústria da aviação permaneça viável e pronta para reconectar as economias e apoiar milhões de empregos no transporte e turismo. Mas esta crise é maior e mais longa do que poderíamos imaginar. E os programas iniciais de incentivo estão se esgotando. Agora precisamos novamente soar o alarme. Caso esses programas de apoio não forem renovados ou estendidos, as consequências para uma indústria já cambaleante serão desastrosas", afirmou o diretor geral e CEO da IATA, Alexandre de Juniac.

"Historicamente, o caixa gerado durante o período de pico no verão no hemisfério norte ajuda as empresas aéreas a passarem pelos meses menos movimentados do inverno. Infelizmente, a primavera e o verão desastrosos desse ano não permitiram formar esse colchão. Na verdade, as companhias aéreas consumiram suas reservas durante todo esse período. E sem um cronograma dos governos para reabrirem suas fronteiras sem quarentenas que impeçam as viagens, não podemos contar com uma recuperação durante o período de festas no final de ano para oferecer um pouco de caixa adicional para nos manter até a primavera", explicou de Juniac.

A IATA estima que, apesar de reduzir custos em pouco mais de 50% durante o segundo trimestre, a indústria consumiu US$51 bilhões de seu caixa enquanto as receitas despencaram quase 80% comparado ao mesmo período do ano anterior. A drenagem de capital persistiu durante meados deste ano, com a expectativa das aéreas consumirem um adicional de $77 bilhões de seu caixa durante a segunda metade deste ano e outros US$60-70 bilhões em 2021. Não se espera que a indústria tenha um fluxo positivo de caixa até 2022.

As companhias aéreas adotaram inúmeras medidas de autoajuda para reduzir custos. Isso inclui deixar milhares de aeronaves paradas em solo, redução de rotas e cortes de quaisquer gastos não críticos, além de afastar e demitir centenas de milhares de funcionários experientes e dedicados.

Apoio amplo necessário para o setor

"O apoio do governo é necessário para todo o setor. O impacto se alastrou por toda a cadeia de valor da aviação, incluindo nossos parceiros aeroportuários e de infraestrutura de navegação aérea que dependem de níveis pré-crise de tráfego para sustentar suas operações. O aumento das taxas cobradas dos usuários do sistema para compensar esta lacuna iniciaria um ciclo vicioso e sem retorno que aumentaria as pressões de custos e de demissões ainda mais. Isso prolongará a crise para os 10% da atividade econômica global que está vinculada ao setor de viagens e turismo", disse de Juniac.

Os consumidores terão pouca tolerância em relação a aumento de custos. Em uma pesquisa recente da IATA, cerca de dois terços dos passageiros já manifestaram que irão postergar suas viagens até que a economia em geral ou sua situação financeira pessoal estabilize. "Aumentar o custo das viagens nesse momento delicado irá atrasar a volta às viagens e os empregos continuarão ameaçados", acrescentou de Juniac.

De acordo com os últimos números do Grupo de Ação de Transporte Aéreo, a forte desaceleração deste ano, somada à lenta recuperação, ameaça 4,8 milhões de empregos em todo o setor da aviação. Como cada emprego na aviação oferece suporte a muitos outros na economia mais ampla, o impacto global será de uma perda potencial de 46 milhões de empregos e de US$1,8 trilhão de atividade econômica em risco.

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