sábado, 2 de maio de 2020

Grave crise na capacidade do transporte da carga aérea



A Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA - International Air Transport Association) divulgou grave deficit de capacidade do transporte aéreo de carga no mês de março de 2020.

• A demanda global, medida em toneladas de carga por quilômetro (CTKs*), caiu 15,2% em março em relação ao ano anterior (-15,8% nos mercados internacionais).

• A capacidade global, medida em toneladas de carga disponível por quilômetro (ACTKs), diminuiu 22,7% em março em relação ao ano anterior (-24,6% nos mercados internacionais).

• Os mercados internacionais representam 87% da carga aérea. A capacidade de transporte de carga internacional no porão de aeronaves de passageiros encolheu 43,7% em março em relação ao ano anterior. Isso foi parcialmente compensado pelo aumento de 6,2% na capacidade devido à utilização de aeronaves cargueiras, além da utilização de aeronaves de passageiros ociosas para operações somente de carga.

"No momento, não temos capacidade suficiente para atender à demanda remanescente de carga aérea. Os volumes caíram mais de 15% em março em relação ao ano passado, mas a capacidade encolheu quase 23%. Essa diferença deve ser resolvida rapidamente, porque os suprimentos vitais precisam chegar onde são necessários. Por exemplo, há uma demanda duas vezes maior por produtos farmacêuticos essenciais para o enfrentamento desta crise. Com a maior parte da frota de passageiros ociosa, as companhias aéreas estão fazendo o possível para atender à demanda, adicionando serviços de aeronaves cargueiras, além da adaptação de aeronaves de passageiros ao transporte exclusivo de carga. Mas o preparo dessas operações especiais continua enfrentando obstáculos burocráticos. Os governos devem reduzir a burocracia envolvida na aprovação de voos especiais e garantir o deslocamento seguro e eficiente da tripulação", disse Alexandre de Juniac, diretor geral e CEO da IATA.

Ainda existem muitos exemplos de atrasos na obtenção de licenças de fretamento, relaxamento da obrigatoriedade de testes para COVID-19 para tripulação de cargueiros e infraestrutura inadequada em solo de/para e dentro dos ambientes aeroportuários. A carga aérea precisa se mover de forma eficiente por toda a cadeia de suprimentos para ser eficaz. A IATA pede aos governos que:

• Reduzam a burocracia nas operações de fretamento

• Isentem a tripulação de carga das regras de quarentena que se aplicam à população em geral

• Garantam pessoal e instalações adequadas para processar a carga com eficiência.

Recuperação lenta

Mesmo com o atual déficit de capacidade, a crise econômica deve agravar ainda mais os volumes de carga aérea.

Uma análise de curto prazo mostra que a atividade de manufatura global continuou em contração em março, pois as restrições impostas pelos governos causaram interrupções generalizadas. Após o acentuado declínio em fevereiro, que foi mais grave que a crise financeira global de 2008, o PMI - Purchasing Managers Index (índice que mede a atividade de gerenciadores de compras) da manufatura subiu um pouco em março, mas continua com tendência de queda. Essa pequena melhoria foi resultado da estabilização do PMI da China; sendo assim, ao excluir o resultado da China, o índice global caiu para o seu nível mais baixo desde maio de 2009.

Para o restante de 2020, a Organização Mundial do Comércio prevê poucas chances de uma recuperação rápida. O cenário mais otimista é de queda de 13% no comércio em 2020, enquanto o cenário pessimista registra queda de 32% no comércio em 2020. Esses resultados causarão um impacto profundo nas perspectivas da carga aérea.

Porém, uma área de demanda apresenta crescimento. O transporte de produtos farmacêuticos registrou o dobro do volume do ano passado, sem contar o transporte de equipamentos médicos.

"A falta de capacidade suficiente infelizmente será, um problema temporário. A recessão provavelmente atingirá a carga aérea de forma tão grave como no restante da economia. Para manter a cadeia de suprimentos em movimento para atender à demanda atual, as companhias aéreas devem ser financeiramente viáveis. Qualquer alívio financeiro para as companhias aéreas continua urgente", afirmou De Juniac.

Desempenho por região em março de 2020


As empresas aéreas da Ásia-Pacífico apresentaram queda de 15,9% na demanda por carga aérea internacional em março de 2020 em relação ao mesmo período do ano anterior. A demanda de carga com ajuste sazonal caiu 3,0% em relação a fevereiro de 2020, atingindo níveis vistos pela última vez no terceiro trimestre de 2013. A capacidade internacional diminuiu 27,8%.

As companhias aéreas da América do Norte registraram declínio de 13,3% na demanda internacional em março de 2020, mais do que o dobro da queda registrada em fevereiro (-6,1%). Os volumes de carga na rota comercial entre a Europa e a América do Norte foram os mais afetados em março (queda de 22% em relação ao ano anterior). A capacidade internacional diminuiu 19%.

As companhias de transporte aéreo da Europa registraram queda anual de 18,8% nos volumes de carga internacional em março, que foi muito maior que o resultado de fevereiro (-5,2%). A demanda dentro da Europa diminuiu 32,6% em relação ao ano anterior, devido às paralisações gerais no setor de manufatura em toda a região. As maiores rotas entre Europa e América do Norte e entre Europa e Ásia também registraram quedas consideráveis neste mês. A capacidade internacional diminuiu 27,6%.

As empresas aéreas do Oriente Médio registraram declínio de 14,1% na comparação anual, após o crescimento de 4,3% em fevereiro. Entre todas as rotas de/para o Oriente Médio, as grandes rotas comerciais com a Europa e Ásia registraram quedas na ordem de 20% em março, enquanto o menor mercado com a África registrou declínio de aproximadamente 30%. A capacidade internacional diminuiu 20,4%.

As transportadoras da América Latina apresentaram a maior queda entre as regiões, com declínio anual de 19,3% na demanda internacional. Essa queda foi significativa em relação a fevereiro (-0,5%). O declínio foi geral, com resultados mais acentuados na América Central e do Sul, com queda aproximada de 35% nos volumes em relação ao ano anterior. A capacidade internacional diminuiu 37,6%.

As companhias aéreas da África foram as menos afetadas pelas interrupções em março, apresentando queda no crescimento internacional anual de 1,2% nas toneladas de carga por quilômetro (CTKs) após os resultados anuais positivos em janeiro e fevereiro. A rota comercial entre a África e a Ásia foi a única que continuou registrando crescimento em março, com volumes acima de 10% em relação ao ano anterior. A capacidade internacional diminuiu 8,2%.

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